MENSAGEM DIARIA

MENSAGEM DIARIA

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Deus não é consumista!




A Faculdade de Teologia da Universidade de Oslo (Noruega) vem trabalhando desde o outono de 2001 em um projeto intitulado “Religião em uma Era Globalizada – Transferências e Transformações, Integração e Resistência”. O objetivo do projeto é pesquisar quais os impactos que as religiões têm sobre o processo de globalização e vice-versa: quais são os impactos que os processos de globalização exercem sobre as visões de mundo das igrejas e suas práticas religiosas.

Em era de globalização, uma das principais características das religiões é fluidez, ou a capacidade de colocar em movimento mundial mensagens de transformações. Neste contexto, o Brasil desempenha um importante papel já que assumiu a posição de exportador de missões religiosas para o Norte, principalmente através de igrejas conhecidas como neopentecostais – entre elas, a Igreja Universal do Reino de Deus. Aqui vale a ressalva que todo universo religioso brasileiro que não é católico ou que não pertence à religião afro-brasileira é popularmente conhecido como igrejas evangélicas (incluindo as igrejas Pentecostais, Neopentecostais e Protestantes), reunindo um grupo de mais de 40 milhões de fiéis só no Brasil.

Qual é então uma das mensagens religiosas que o Brasil está enviando para o mundo? A mensagem do consumismo. Em total concordância com a política neoliberal e sua visão irrestrita de mercado, um grupo de igrejas evangélicas lançou a grife “Lar Evangélico”. Mais de 1,2 mil produtos que vão de gêneros da cesta básica até brinquedos terão em suas embalagens selos que deverão ser recortados pelos fiéis e depois levados às igrejas. Metade do lucro líquido obtido com os royalties do licenciamento da marca será repassado para as igrejas. O total de royalties dependerá do número de selos que cada igreja evangélica participante desse projeto arrecadar.

Sem entrar na questão do impacto ambiental promovido pelo consumismo exacerbado – aquele em que compramos coisas que não necessitamos, mas o fazemos somente com o objetivo de apaziguar nossa angústia existencial. Tentamos preencher com coisas materiais o vazio deixado pela superficialidade das relações humanas e a desconsideração para com o próximo, características da era globalizada.

O lançamento da grife “Lar Evangélico” vem ao encontro da promoção de algumas igrejas evangélicas de experienciar espiritualidade através da ‘economização’ da religião, com ênfase em riqueza significando benção de Deus ou a necessidade de sacrificar dinheiro para a igreja como forma de ter atendido os desejos mundanos: o carro do ano, a casa própria...

Por que a Igreja Universal do Reino de Deus tem tido uma expansão exponencial no Brasil, nos Estados Unidos e na África? Porque é voltada para as ‘coisas’ que as pessoas desejam – bem-estar, sucesso pessoal, riqueza. A Universal do Reino de Deus tem a perfeita fórmula para se alcançar todos esses desejos: o sacrifício através do dinheiro.
A Igreja Universal do Reino de Deus promove a si mesma mais como um centro de atendimento espiritual do que como igreja. Não é uma instituição de salvação, mas sim de libertação de tudo aquilo que impede uma pessoa de ser feliz, rica e ter sucesso. Fé é uma questão de sacrifício, de doar alguma coisa material (para a igreja, é claro) que fará muita falta para o fiel. Fé é sacrificar e ter certeza absoluta de que será atendido. Se o fiel não recebeu (mesmo se doou seu apartamento ou seu carro para a igreja) é por culpa dele mesmo, porque não acreditou plenamente. A mensagem é: ao doar para Deus (através da igreja) um sacrifício, não há como Deus não atender ao fiel.

Além do sacrifício (obrigação) de doar 10% do salário como dízimo para as igrejas, os fiéis serão agora, através da grife “Lar Evangélico”, incentivados a consumir mais e mais, mesmo que não estejam em condições financeiras de fazê-lo ou que não necessitem. E eles o farão, persuadidos pelos pastores e crendo que através de mais esse sacrifício financeiro alcançarão o paraíso terrestre. Mais ainda, a grife favorece o processo de individualização. Através da compra, justificam os pastores, o fiel estará ajudando a igreja a realizar projetos de cunho social, a ajudar o próximo que na verdade o fiel nem precisa ver ou entrar em contato com. A grife “Lar Evangélico”, uma jogada de marketing religioso inédita no mundo, mascara a falta de abertura do indivíduo para com o outro, promovendo o empobrecimento da vida. Esta é uma das mensagens religiosas do Brasil para o mundo globalizado.

ANDRÉA ZENÓBIO, Jornal do Brasil

extraído de www.jornalocaminho.com.br no dia 28/06/2010 as 19.00

Nenhum comentário:

Postar um comentário